Em nossa proposta para o Concurso Nacional para as Travessias do Rio Capibaribe em Recife, estudamos formas de simbiose entre estruturas urbanas consolidadas e áreas de preservação ambiental.




Apesar de decisivos na constituição das cidades, corpos hídricos urbanos tiveram por muito tempo sua presença reduzida a sintomas perturbadores da ordem. Hoje em dia, no entanto, tem-se não apenas projetos mas experências consolidadas e exitosas de reintegração de cursos d’água à paisagem e à vida urbana sustentáveis e simbióticos.

Mais do que um sistema integrado de espaços públicos à beira de um rio, as iniciativas relativas ao Parque Capibaribe integram uma política de desenvolvimento urbano. Em busca de uma relação mais saudável, sustentável e dialógica entre o Rio Capibaribe e as dinâmicas urbanas da cidade de Recife, propõe fortalecer a mobilidade ativa, recuperar as margens, consolidar de corredor ecológico, reativar espaços públicos marginais e proporcionar maior permeabilidade e acesso ao Rio. Entende-se que tais posturas devem ser adotadas ao longo de todo Rio, o que sugere certa replicabilidade de soluções e possibilita maior eficiência de recursos. No entanto, cada trecho de Rio e cada trecho de cidade trazem consigo especificidades e aberturas para experiências e experimentações únicas e irreplicáveis. A presente proposta se debruça, então, sobre esse duplo desafio: propor soluções de travessia e cabeceira que possam ser replicadas ao longo do Rio, mas que sejam, ao mesmo tempo, abertas para atender às variações de cada trecho.

Para tanto, as margens de cada uma das cabeceiras foram analisadas segundo quatro faixas.

[A] área não alagável contígua ao tecido urbano consolidado;
[B] área não alagável em desnível, pendente ao Rio;
[C] áreas alagáveis fora da calha navegável;
[D] calha navegável.





Cada uma das quatro faixas apresenta características geométricas, geológicas, fitotípicas e hídricas distintas, que moldam a maneira de ali se intervir e de se preservar. Foram propostos elementos-padrão que combinam atividades humanas, não-humanas e de monitoramento  ambiental, adaptados a cada uma das faixas.

[1] Praças: áreas de acesso e lazer com equipamentos de uso público/ jardins lineares de contenção e descontaminação;

[2] Blocos: circulações verticais em rampas e em escadas/ infraestruturas para viveiros de mudas vegetais, travessias e áreas de repouso para animais silvestres e monitoramento ambiental;

[3] Plataformas: acesso a barcos / infraestruturas para descanso de animais e monitoramento ambiental;

[4] Passarelas: transposição do Rio por pedestres e infraestrutura.








Apesar de padronizados, tais objetos integram o redesenho de cada cabeceira com objetivos muito específicos, intimamente conectados à geometria das cabeceiras, e ao tecido e às dinâmicas das adjacências. Além de consolidar e dar continuidade do tecido existente, e interligando entre estruturas de acesso à água em circuitos contínuos, definindo limites legíveis entre espaços públicos e privados, propôs-se a consolidação de janelas de mangue pontuais, frenquentes, legíveis e alinhadas entre si, para aumentar a permeabilidade visual, aproximar a população das águas do Rio, e favorecer a consolidação de encostas e a preservação da vegetação ciliar.









As soluções arquitetônicas que compõem as cabeceiras foram pensadas enquanto infraestrutura: extrapolam funções específicas e funcionam como espera para mecanismos múltiplos. Áreas ajardinadas bem definidas por muretas e bancos fazem a transição entre as porções urbanizadas das cabeceiras e os taludes. Além de receber iniciativas de hortas comunitárias e viveiros de mudas vegetais, estes jardins funcionam como interfaces de descontaminação, tratando as águas advindas da malha urbana antes que escoem para o Rio. Os elementos que conectam os pedestre diretamente ao Rio integram em sua estrutura porções destinadas a travessia e abrigo de outras espécies animais e vegetais. As plataformas para acesso à água são importantes pontos de embarque e desembarque em embarcações, mas também como palco para atividades de educação ambiental e monitoramento de qualidade de água e solo.









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Beatriz Dutra, Marina Oba, Gabriel Tomich, Gabriel Castro


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