2023 / concurso UERGS

A universidade pública tem como missão formar pessoas capazes tanto de produzir conhecimentos, quanto de fazer com que estes conhecimentos tragam benefícios sociais, intelectuais e econômicos para toda a sociedade. Sua presença é decisiva e transformadora não apenas para a cidade em que se instala e para seus moradores, mas também para toda uma rede de outros territórios, dinâmicas e populações. O edifício que abriga uma universidade pública deve ser entendido como mais do que um equipamento urbano voltado ao ensino: trata-se de um marco territorial, espaço cívico e simbólico a ser validado e apropriado por toda a sociedade.


O terreno destinado à nova Unidade Hortênsias da UERGS ocupa uma importante porção do município de São Francisco do Paula. Situa-se em frente à Praça Capitão Pedro da Silva Chaves, onde já estão instalados o Hospital e a Igreja São Francisco de Paula, bem como suas estruturas complementares. O novo Edifício contrapõe-se às edificações que estão a norte da Praça, ao passo que traz dinamismo para a Rua José Bonifácio, a sul da Praça. O porte esperado para o novo Edifício condiz com o seu caráter simbólico e com as múltiplas funções necessárias ao seu funcionamento. É contrastante, no entanto, com o tecido no qual está inserido, em geral composto por edificações de menor porte, com até dois pavimentos, algumas delas com valor histórico para a Cidade.




Como conciliar diferenças de escala, apropriação e legibilidade?

Três premissas mostraram-se fundamentais à implantação do Edifício em meio a um contexto tão relevante e contrastante. A primeira é de que perspectivas de pré-existências relevantes para a Cidade devem ser preservadas e potencializadas, favorecendo, assim, uma integração mais sensível com o entorno.








A segunda é de que o conjunto deve garantir fluidez nos percursos que agencia, promovendo maior apropriação por parte da população como um todo e validando seu papel como marco territorial.


A terceira é de que o Edifício deve funcionar como uma ferramenta inspiradora de aprendizagem, oferecendo espaços criativos, legíveis e democráticos aos usuários e à Cidade.  A fim de garantir o cumprimento de tais diretrizes, organizou-se o programa em três espaços: a Rua, o embasamento e a torre.

A Rua é caracterizada pelo trecho da José Bonifácio, que faz a transição entre o lote dedicado ao Edifício e a Praça Capitão Pedro da Silva Chaves. O limite entre a Praça e a Rua é um muro em pedra. A fim de propiciar maior interação entre Rua e Praça, aumentou-se a espessura do muro existente, complementando sua geometria para que incorpore bancos, palcos, espaços de brincadeira, e elementos de mobiliário e iluminação. O leito em desnível para veículos foi suprimido, dando vez a um piso contínuo e generoso. Foi adotada pavimentação semelhante à existente em granito, aproveitando o material existente e incluindo outras tonalidades para maior definição de áreas específicas. O desenho de piso e os balizadores iluminados indicam a possibilidade de passagem eventual de veículos, tanto para moradores quanto para situações de emergência, manutenção e eventos. O limite entre a Rua e o lote foi dissolvido, garantindo a fluidez do espaço público por dentro do Conjunto e permitindo que eventos públicos e eventos da universidade funcionem conjuntamente. Os espaços propostos são receptivos a feiras livres, quermesses, atividades de ensino, assembleias e eventos culturais, por promoverem maior apropriação, dinamicidade e segurança ao conjunto da Universidade. A praça superior recebe um banco circular que funciona como espaço de interação informal entre estudantes, mas também de debates, apresentações, e brincadeiras. Um jardim avaranda-se para a praça inferior e garante visibilidade aos bens históricos preservados.



O embasamento distribui-se horizontalmente, organizando a topografia e as praças de acesso ao conjunto. Ele incorpora as áreas do programa que demandam acesso mais direto e maior quantidade de infraestrutura – como auditório, áreas de exposição e convívio, laboratórios específicos e áreas técnicas –, e conforma as praças de acesso ao conjunto. É constituído basicamente por paredes estruturais e laje em concreto moldado in loco, por conta da sua relação direta com o solo. Sua cota de cobertura é coincidente com o nível da rua pedestralizada. O transeunte pode descer à praça inferior por rampa ou escada, passando por espacialidades diversas.




A torre concentra-se na porção mais interiorizada do lote. A não verticalização da esquina mostrou-se fundamental tanto para conferir fluidez à Rua pedestralizada, quanto para garantir a permeabilidade visual desde o Foro da Comarca e da antiga sede da Prefeitura, até a Praça e a Igreja. A torre toca o embasamento tanto na praça superior quanto na inferior, constituindo espaços de mediação entre as esferas pública e privada. É na torre que estão contidos os espaços administrativos e didáticos. Variações dimensionais, vazios internos, divisórias interativas, e vedações transparentes favorecem tanto experimentações nas atividades didáticas, quanto interações mais diretas e frequentes com a cidade. Próximo à Rua, a laje do primeiro pavimento foi recuada de forma a criar um átrio público de acesso coberto com pé direito elevado. À meia altura na torre, foram dispostas áreas de convívio e estudos que se avarandam para a praça inferior e tem vista para a porção sul da cidade. Na cobertura, um espaço polivalente descoberto coroa o edifício oferecendo vista panorâmica para a Cidade, dedicado tanto a atividades didáticas, quanto a celebrações e eventos em geral.  







tropo_
Beatriz Dutra, Gabriel Tomich, Marina Oba, Angelo Signori, Camila de Andrade, Eduardo Hungaro, Julianna dos Santos
+ Nícolas Marques de Oliveira, Gabriel Castro




área

ano
 
3 552 m²

2022




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